quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Caminhando alegremente para o descalabro...

Todos os dias os seguros exigidos à compra de divida portuguesa atingem novos records... Aparentemente hoje ultrapassa os 200 pontos, significando que quem quiser comprar 1 milhão de dívida portuguesa tem de segurar 200.000 euros... Não surpreende portanto que numa tentativa de leilão de 500 milhões se tenham apenas vendido 300... Ora, perante isto, qual o caminho? O governo pretende endividar-se mais... Com certeza! Quem vai emprestar? Certamente haverá por aí uns tipos incautos que não ligam a esses canalhas das agências de rating, nem a estas campanhas negras lançadas contra governos responsáveis e competentes nos jornais da alta finança... Ou então, certamente haverá por aí umas empresas de crédito, tipo Cofidis, que emprestam uns milhares de milhões sem perguntas...

É para mim evidente, pelas noticias que leio há dois dias a esta parte, que chegámos a um ponto sem retorno. Os mercados são como um grupo de adolescentes histéricos: quando um grita, os outros gritam ainda mais, não pelo que motivou o grito ao primeiro, mas acima de tudo por o primeiro ter gritado... A dada altura é uma gritaria descompensada e, bom, já transmiti a ideia...

O governo teve um momento para estabilizar os mercados e adiar a coisa por uns meses: o dia em que apresentou o Orçamento de Estado. Esse era o momento. Desbaratou-se a coisa, perdeu-se o momento! Agora, o ministro até pode fazer o pino, que já não vai transmitir confiança a ninguém! E este facto mostra um amadorismo sofrível, por parte de quem nos governa. Custa a acreditar. Eu não acredito ainda! Ou acredito? Será possível acreditar que um Ministério com centenas de trabalhadores, acessorado por outras centenas de consultores, amigos, conhecidos e especuladores podem ser tão gritantemente amadores? Será possível que estejamos entregues a gente tão indigna do acto de governação? Uma gente, que para lá de indigna de ocupar um cargo de decisão, é de uma traça asinina da mais pura que o país tem?

No meio disto tudo, o que se anda a discutir? A Lei das Finanças Regionais... Mais uns milhões para o Alberto João... Enquanto os especuladores e investidores limpam o rabo a obrigações da dívida portuguesa e a bolsa portuguesa afunda com os maiores bancos nacionais, o governo manda uma mensagem ao Parlamento por Jorge Lacão: que se o Parlamento fizer o jeito ao Alberto João, batem com a porta...

Ora aí está a solução... Invocar o pântano! Onde é que eu já vi isto?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Crespo e a consciência colectiva

Não sei que me espante mais,: se o Crespo, se José Leite Pereira, se Pedro da Silva Pereira, se alguma esquerda que considero, se a nossa consciência colectiva e a nossa "experiência" de liberdade.

Mário Crespo, ou chamem-lhe o Gato das Botas, denuncia uma situação que lhe foi reportada por terceiros. Fá-lo, ou tenta fazê-lo, assumindo livremente as responsabilidades de quem denúncia sem prova. Um jornal, recusa publicar o artigo de opinião, alegando carecer de confirmação de factos. As confirmações chegam hoje, assim como a notícia de que afinal já haviam sido confirmadas.

Em que ficamos? Numa falta de liberdade total, a todos os níveis! Somos uma sociedade mesquinha, pequena, subserviente, profundamente carente de espinha dorsal.

1º Mário Crespo, tem o direito a denúnciar o que entender, alta voz, quem entender, como entender. Se fizer uso excessivo das suas liberdades ou violar a dos outros, existem meios e instituições para arbitrá-lo.

2º O Jornal de Notícias tem pleno direito de não publicar um artigo de opinião.

3º Sócrates, Silva Pereira, Lacão, o Gato das Botas, o Capuchinho Vermelho, têm todo o direito a emitir opinião sobre o que bem entenderem, assumindo por ela a responsabilidade que se exige a qualquer cidadão.

4º O Jornal de Notícias prestou-se a um perfeito ridículo ao orquestrar motivações patéticas para a rejeição do artigo. Porquê? Porque é miserável. Ou porque não tem coragem para assumir livremente que não publicou um artigo de que não queria ser mensageiro. Ou porque não tem a liberdade de assumir a sua posição pró-governo. Ou por cobardia. Ou por medo.

Silva Pereira, Lacão, e Santos Silva perderam uma boa oportunidade para estarem calados. Se perante a denúncia de Mário Crespo, se prontificaram a proferir palavras como calhandrice ou mexericos, agora, depois de Nuno Santos confirmar têm de explicar melhor...

6º Sócrates critica abertamente os jornalistas e o seu trabalho, tal como fez na entrevista à RTP ou no Congresso de Espinho, a meu ver na sua liberdade; os jornalistas continuam a dizer o que pensam de Sócrates e das suas políticas livremente, a não ser quando esse ser opaco, estanho e silencioso, que é o Director ou o Chefe de Redacção decide demitir, acabar com jornais, recusar publicar artigos de opinião... Perante isto, pergunto, ONDE ESTÁ O VÍCIO?

7º E nós? Uns defendem o Crespo, porque o Primeiro Ministro atentou contra a sua liberdade de expressão (absurdo!), outros atacam Crespo, porque não tem ética e fez mau jornalismo e, de caminho, não pode exercer a sua liberdade de expressão para denunciar a falta de pejo de um primeiro-ministro que, na presença de terceiros e em espaço público, o ataca profissionalmente (ainda mais absurdo!).

A minha conclusão é a de que o problema reside em nós, na nossa falta de valores enquanto sociedade, na falta de apreço que temos pelo espaço publico onde manifestamos a nossa liberdade de opinião e de expressão. Acima de tudo porque a liberdade acaba para todos, independentemente da força que nos governa, seja à esquerda ou à direita, quando nos entricheiramos em facções.

Eu por mim, o que levo desta novela, é que não volto a comprar o Jornal de Notícias.