terça-feira, 25 de novembro de 2008

Change, we can!

O mundo encheu-se de esperança.
Chega ao fim uma década negra na história dos Estados Unidos da América culminando num rude golpe ao seu domínio financeiro e económico a nível mundial. No entanto, perante um mundo estagnado, mudo, inerte e passivo, os Estados Unidos reinventam-se na pele negra de Barack Obama. É aqui que reside o domínio dos Estados Unidos da América perante o mundo: o dinamismo da sociedade, a vitalidade da democracia, o domínio claro das ideias, a constante proposta de mudança, de alternativas. Num ano apenas um país de enormes assimetrias, de gigantesca diversidade, foi capaz de discutir o mundo, de se escrutinar, de se avaliar, de propor soluções aos problemas que criou. O mundo volta a virar-se para Washington.
É caso para perguntar onde está a Europa, neste novo mundo Ocidental fragmentado por duas guerras falhadas.
Qual é o papel da Europa num mundo onde o poder económico se distribui pelo Médio Oriente, China, Rússia e Índia?
Qual é o papel da Europa no esgotar da especulação e dos abusos do capitalismo desregulado?
Qual é o papel da Europa na nova medida de forças entre Washington e Moscovo?
Qual é o papel da Europa perante os desafios ambientais?
Nenhum.
Todos esperamos as decisões de Barack Obama, todos aguardamos a resposta do outro lado do Atlântico. A Europa mostra-se, ainda, incapaz de marcar a agenda mundial e responder aos desafios globais. Porque não fala a uma só voz, porque não tem liderança política, porque não tem qualidade democrática, porque não é representativa, porque não é coesa, porque não existe enquanto visão estratégica, porque não se posiciona como bloco de união além dos interesses dos seus estados membros, porque a ideia que representa se vem diluindo na institucionalização burocrática de uma Comissão e um Parlamento sem representatividade.
Este deveria ter sido o tempo da Europa, não o de Obama!
No entanto, enquanto os Estados membros desta Europa a 27 se preparam para discretamente, e sem escrutínio, reconduzir no cargo de Presidente da Comissão Europeia o único dos chefes de Estado que sobreviveu à fatídica e ridícula Cimeira das Lajes, por forma a prosseguir sem ruptura uma agenda invisível de uma Comissão que se quer fraca e sem dimensão política, os americanos renovam-se, reinventam-se, transformam-se numa nova esperança e apostam forte na mudança. Teremos mais oito anos de domínio norte americano no mundo, quem sabe o reforçar desse mesmo domínio, enquanto esperamos pelos Irlandeses e Polacos, na esperança idílica de vermos eleito um Presidente (ainda que de segunda) e um Ministro dos Assuntos Externos que nos represente e nos dê voz, que coloque os nossos ideais e a nossa visão do mundo em cima da mesa. Que imponha a nossa agenda política aos restantes blocos económicos: que nos proteja das alterações climáticas forçando de uma vez por todas os Estados Unidos a ratificar os protocolos internacionais; que defenda a democracia como arma de defesa da paz; que defenda os direitos humanos; que defenda a lei internacional; que dignifique as Nações Unidas e equilibre os poderes no seio da NATO; que imponha o diálogo no Médio Oriente; que proponha a reforma do FMI; que imponha restrições ao comércio de armas entre o governo chinês e as ditaduras em África; que contraponha ao modelo social americano um modelo social europeu forte e reformado; que imponha a diplomacia política à diplomacia económica; que reafirme a ideia de democracia e liberdade no mundo: a liberdade da sociedade como contraponto à liberdade individual norte americana.
Este devia ser o momento da Europa! Será o momento de Obama!

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