terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cavaco e a Palavra

Cavaco Silva
Foto: Nuno Ferreira Santos
Lá vai o tempo em que Cavaco usava da Palavra como um poder determinante da acção do Presidente. Aquela reverência, aquela postura, aquela rectidão... Cano a baixo!

Agora, Cavaco arrisca usar da palavra para dizer uma série de lugares comuns que nada acrescentam, mas tudo subtraem. Subtraem porque matam o debate. Dizer que só se deve mudar uma norma quando se está convencido de que se muda para melhor, é o mesmo que acusar a direcção do PSD de irresponsabilidade, imaturidade e até de leviandade. Supor que se possa fazer uma proposta de revisão constitucional sem que se esteja certo do que se faz é retirar credibilidade a quem a propôs. É claro que tudo isto não passaria de politiquice, não fosse o mensageiro esse Senhor da Palavra, o reverendíssimo Presidente da República.

Não só é insólito ouvir Cavaco Silva balbuciar meia dúzia de banalidades cujo conteúdo, apesar de vago e inócuo, tem como propósito retirar legitimidade ao proponente da proposta como mais insólito ainda é ver um Presidente da República mandar pregoadas num processo de revisão constitucional. Se há assunto em que o Senhor, pelo dever de reserva de que tanta vez faz uso para não se comprometer, devia abster-se era o da discussão da Constituição, já que é sua função primordial defênde-la e não debatê-la.

Um comentário:

R.B. NorTør disse...

Caro Rui,

Quem ler o teu comentário quase que pensa que o Cavaco convocou uma conferência de imprensa para opinar sobre o caso.

Quem segue a ligação no entanto fica esclarecido que ele o afirmou "quando questionado sobre o processo de revisão constitucional, que deverá ser brevemente iniciado com a entrega do projecto do PSD no Parlamento".

Parece-me estarmos longe de uma vontade de debate institucional.

Considerar que as palavras do Presidente têm como propósito retirar legitimidade ao proponente, é querer ver o que não existe.

De resto será que Cavaco não está a defender a Constituição? Se as palavras são tão vagas e inócuas como dizes, então o PSD devia ver nelas apenas mais uma força para seguir em frente com o projecto que vai apresentar.

A julgar pela tua reacção eu diria no entanto que há alguma desconfiança em relação ao dito projecto, mesmo dentro das próprias hostes e isso não só legitima o aviso de Cavaco, como cria um sentimento de irresponsabilidade, imaturidade e leviandade por parte de quem se prepara para tão arrojado passo...