sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os Roms, a França e a Europa

O assunto já tem barbas. Arrasta-se desde 2007 aquando da adesão da Roménia e da Bulgária à União Europeia. É consequência directa de uma visão de construção europeia impulsionada pelo eixo franco-alemão que perspectiva, pura e simplesmente, um alargamento do seu mercado de exportações. A economia é bem-vinda, o superávit comercial é bem-vindo, os problemas sociais e humanos cada um resolva os seus. Esta visão da Europa é uma farsa e é como um camião sem travões a caminho de uma parede.

Esta Europa está sem rei nem roque e nem o Tratado de Lisboa resolve o problema. É bom que se pare para pensar! Durante os últimos dez anos, todos aqueles que colocaram reservas ao processo de alargamento e ao método da construção europeia foram quase acusados de traição. Mas é preciso um balde de água gelada em  cima dos tontos alegres que querem marchar até à fronteira iraquiana e às portas de Moscovo!

Os franceses desempenham no meio de toda esta confusão um papel esquizofrénico. Se por um lado foram os grandes impulsionadores da União, por outro sempre foram o seu travão. Não tenhamos dúvidas de que foi o chumbo à Constituição Europeia em França que matou o processo, porque caso contrário tinha avançado com novo referendo na Holanda. Agora, novamente a França, vem sacudir a água do capote ao retornar os ciganos para a Roménia e a Bulgária, alegando que é um problema que esses países devem resolver. Mais cinismo e hipocrisia que isto seria difícil. Quando aderiram, a Roménia e a Bulgária, eram 30 milhões de potenciais consumidores. Agora são uma mescla étnica que ninguém quer encarar.

Pior que tudo é ler o editorial do Le Monde e perceber que no que toca às preocupações dos franceses é muito mais cara a imagem de França no mundo, especialmente à porta da sua presidência do G20, que o problema dos direitos humanos. É bom que se pare para repensar a Europa e o processo de construção europeu, porque não era este o fim que os fundadores procuravam.

Que os ciganos romenos e búlgaros sirvam para ponderar com muita cautela a adesão da Turquia e os seus problemas étnicos. Do Chipre nem falo que me entristece!

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