quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fascismo nunca mais!

Anda por aí um saudosismo que assusta!
É um atentado à memória e ao atraso estrutural em que vivemos.
Uma tentativa de branqueamento da história.

Eu não vivi a ditadura, não posso falar-vos das perseguições pidescas, nem da pobreza, nem do isolamento do país, nem da guerra colonial. Mas posso falar do atraso estrutural que o país ainda vive como consequência de uma política económica tosca, provinciana e castradora e de um total desrespeito pelos cidadãos.

Este fenómeno tem sempre a mesma justificação: as finanças. Que bom que era o Salazar, que mantinha as contas em ordem. Que brilhante estratego da poupança que conseguiu construir a maior reserva de ouro da Europa exportando minério e atum enlatado.

Salazar também nas finanças e na economia falhou. Castrou o desenvolvimento do país, manteve o país na miséria, não construiu infra-estrutura, não cuidou da educação. O país, chegou a 74 com muito do interior sem água canalizada, sem rede de esgotos, sem rede electrificada! Era um país miserável! Eu ainda vi construir a rede de saneamento no distrito de Vila Real, durante a década de 90!!!!

A educação e a saúde eram um privilégio, a Universidade só para uma pequena elite. Era conveniente manter o povo na ignorância. As taxas de analfabetismo eram ridiculamente elevadas, o que leva a que ainda hoje em dia seja comum encontrar quem assine com uma cruz.

Salazar não pode ser comparado a outros ditadores europeus, provavelmente à excepção de Franco. Salazar e Franco foram ditadores ao estilo sul-americano ou africano, de desrespeito pelo próprio povo. Não havia motivações de conquista ou de superioridade étnica. Havia, isso sim, um profundo desprezo pelos cidadãos e uma visão curta da economia, que não fomentava a iniciativa privada e alimentava meia dúzia de grandes grupos económicos protegidos pelo Estado.

Enfim, há por aí saudosismo, mas o que o justifica, é a meu ver o que a mim mais repugna no Estado Novo: o atraso e analfabetismo em que mergulhou o país durante 36 anos. A PIDE, a perseguição, a censura, não vivi, mas vivo ainda as consequências de um país atrasado e ignorante.

2 comentários:

Nuno Carrasqueira disse...

Uma vez que me sinto algo visado no teu texto, acho que há uma coisa que tenho de referir.
Obviamente, fascismo nunca mais! Obviamente não quero o país a mergulhar nesse mar de retrocesso nem a perder (ainda mais) a liberdade de expressão.
Mas uma pessoa com 999 defeitos e uma qualidade não tem 1000 defeitos. Tem 999 defeitos e uma qualidade. E Salazar tinha uma qualidade na gestão das finanças públicas.
Claro que não é transponível para os nossos dias e que foi levada a um extremo com consequências que vamos pagar por muitos anos, mas não deixa de merecer reflexão. Não para a copiarmos, mas porque mesmo das péssimas ideias podem surgir genialidades.
Porque dizer que ele foi mau, todos conseguimos. Dizer que em 999 defeitos também teve uma qualidade, nem sempre se diz. E temos de aprender com tudo, com os defeitos e com as qualidades. E temos uma tendência para festejar o fim do fascismo sem analisar nem sequer os seus 999 defeitos, quanto mais a sua única e hipotética qualidade.

Nuno Carrasqueira disse...

E como eu tenho uma certa tendência para ser mal interpretado, vou ver se me explico melhor.
Acho que no 25 de Abril, mais útil do que grandes festas com pompa e circunstância, é importante pensar: O que se fez de mal? Então há que não repetir. E houve algo bom? O quê? É aplicável aos dias de hoje? Não? Porquê? Então como vamos conseguir nos dias de hoje bons indicadores sem os prejuízos que daí advieram?
Apenas e só isto. Mesmo que se conclua que nada de bom podemos aprender.