segunda-feira, 20 de setembro de 2010

De Skinner a Pink: perspectivas de modelo social

Autor de extensa bibliografia, Skinner, um dos mais respeitados psicólogos experimentais do Séc XX ainda que tenha sido acusado de behaviorista radical, desenvolveu teorias muito objectivas quanto à relação estímulo/acção.

Sendo o estímulo um acontecimento ambiental capaz de desencadear uma acção, o reforço é um acontecimento que reforça a probabilidade dessa acção ocorrer, podendo ser positivo ou negativo. Este reforço pode ser aplicado por duas vias: a contínua, em que o reforço é dado sempre que se verifica a resposta pretendida; e a intermitente, em que o reforço é dado discriminadamente a algumas das respostas.



Curiosamente, Skinner verificou que a aplicação de reforço por via intermitente promove uma maior frequência da acção e leva a acções mais resistentes à extinção que a via contínua.

Skinner propôs que o reforço deve obedecer a um contracto de contingências, sendo que o contracto deve obedecer a normas:
- estabelecer um reforço atribuído após o desempenho;
- inicialmente atribuir reforços imediatos, frequentes, mas pequenos;
- relacionar o reforço com a realização da tarefa e não com obediência;
- o contracto deve ser justo e claro: os reforços devem ser proporcionais ao esforço implementado na realização de tarefas discriminadas;
- o contracto deve ser honesto, cumprido rigorosamente, e positivo, deve reforçar-se o sucesso da tarefa por recurso a reforço positivo.

Toda a obra de Skinner é um tratado social. As suas conclusões são extremamente relevantes para compreendermos o comportamento humano e devem ser relevadas pela Sociologia. Hoje em dia, desenvolvem-se inúmeras teorias acerca da motivação.


A verdade é que existem mais motivações para além da financeira... O Séc. XVI português serve prova disto. As Descobertas, no seu início não eram lucrativas, o ouro veio muito mais tarde... O que motivou, então, a sociedade a embarcar na aventura?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cavaco e a Palavra

Cavaco Silva
Foto: Nuno Ferreira Santos
Lá vai o tempo em que Cavaco usava da Palavra como um poder determinante da acção do Presidente. Aquela reverência, aquela postura, aquela rectidão... Cano a baixo!

Agora, Cavaco arrisca usar da palavra para dizer uma série de lugares comuns que nada acrescentam, mas tudo subtraem. Subtraem porque matam o debate. Dizer que só se deve mudar uma norma quando se está convencido de que se muda para melhor, é o mesmo que acusar a direcção do PSD de irresponsabilidade, imaturidade e até de leviandade. Supor que se possa fazer uma proposta de revisão constitucional sem que se esteja certo do que se faz é retirar credibilidade a quem a propôs. É claro que tudo isto não passaria de politiquice, não fosse o mensageiro esse Senhor da Palavra, o reverendíssimo Presidente da República.

Não só é insólito ouvir Cavaco Silva balbuciar meia dúzia de banalidades cujo conteúdo, apesar de vago e inócuo, tem como propósito retirar legitimidade ao proponente da proposta como mais insólito ainda é ver um Presidente da República mandar pregoadas num processo de revisão constitucional. Se há assunto em que o Senhor, pelo dever de reserva de que tanta vez faz uso para não se comprometer, devia abster-se era o da discussão da Constituição, já que é sua função primordial defênde-la e não debatê-la.

sábado, 11 de setembro de 2010

O que aprendemos com isto?

Photographs by Spencer Platt/Getty, Denis Poroy/AP, James Nachtwey/National Geographic, Khalid Mohammed/AP, Kim Komenich/Chronicle.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os Roms, a França e a Europa

O assunto já tem barbas. Arrasta-se desde 2007 aquando da adesão da Roménia e da Bulgária à União Europeia. É consequência directa de uma visão de construção europeia impulsionada pelo eixo franco-alemão que perspectiva, pura e simplesmente, um alargamento do seu mercado de exportações. A economia é bem-vinda, o superávit comercial é bem-vindo, os problemas sociais e humanos cada um resolva os seus. Esta visão da Europa é uma farsa e é como um camião sem travões a caminho de uma parede.

Esta Europa está sem rei nem roque e nem o Tratado de Lisboa resolve o problema. É bom que se pare para pensar! Durante os últimos dez anos, todos aqueles que colocaram reservas ao processo de alargamento e ao método da construção europeia foram quase acusados de traição. Mas é preciso um balde de água gelada em  cima dos tontos alegres que querem marchar até à fronteira iraquiana e às portas de Moscovo!

Os franceses desempenham no meio de toda esta confusão um papel esquizofrénico. Se por um lado foram os grandes impulsionadores da União, por outro sempre foram o seu travão. Não tenhamos dúvidas de que foi o chumbo à Constituição Europeia em França que matou o processo, porque caso contrário tinha avançado com novo referendo na Holanda. Agora, novamente a França, vem sacudir a água do capote ao retornar os ciganos para a Roménia e a Bulgária, alegando que é um problema que esses países devem resolver. Mais cinismo e hipocrisia que isto seria difícil. Quando aderiram, a Roménia e a Bulgária, eram 30 milhões de potenciais consumidores. Agora são uma mescla étnica que ninguém quer encarar.

Pior que tudo é ler o editorial do Le Monde e perceber que no que toca às preocupações dos franceses é muito mais cara a imagem de França no mundo, especialmente à porta da sua presidência do G20, que o problema dos direitos humanos. É bom que se pare para repensar a Europa e o processo de construção europeu, porque não era este o fim que os fundadores procuravam.

Que os ciganos romenos e búlgaros sirvam para ponderar com muita cautela a adesão da Turquia e os seus problemas étnicos. Do Chipre nem falo que me entristece!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fascismo nunca mais!

Anda por aí um saudosismo que assusta!
É um atentado à memória e ao atraso estrutural em que vivemos.
Uma tentativa de branqueamento da história.

Eu não vivi a ditadura, não posso falar-vos das perseguições pidescas, nem da pobreza, nem do isolamento do país, nem da guerra colonial. Mas posso falar do atraso estrutural que o país ainda vive como consequência de uma política económica tosca, provinciana e castradora e de um total desrespeito pelos cidadãos.

Este fenómeno tem sempre a mesma justificação: as finanças. Que bom que era o Salazar, que mantinha as contas em ordem. Que brilhante estratego da poupança que conseguiu construir a maior reserva de ouro da Europa exportando minério e atum enlatado.

Salazar também nas finanças e na economia falhou. Castrou o desenvolvimento do país, manteve o país na miséria, não construiu infra-estrutura, não cuidou da educação. O país, chegou a 74 com muito do interior sem água canalizada, sem rede de esgotos, sem rede electrificada! Era um país miserável! Eu ainda vi construir a rede de saneamento no distrito de Vila Real, durante a década de 90!!!!

A educação e a saúde eram um privilégio, a Universidade só para uma pequena elite. Era conveniente manter o povo na ignorância. As taxas de analfabetismo eram ridiculamente elevadas, o que leva a que ainda hoje em dia seja comum encontrar quem assine com uma cruz.

Salazar não pode ser comparado a outros ditadores europeus, provavelmente à excepção de Franco. Salazar e Franco foram ditadores ao estilo sul-americano ou africano, de desrespeito pelo próprio povo. Não havia motivações de conquista ou de superioridade étnica. Havia, isso sim, um profundo desprezo pelos cidadãos e uma visão curta da economia, que não fomentava a iniciativa privada e alimentava meia dúzia de grandes grupos económicos protegidos pelo Estado.

Enfim, há por aí saudosismo, mas o que o justifica, é a meu ver o que a mim mais repugna no Estado Novo: o atraso e analfabetismo em que mergulhou o país durante 36 anos. A PIDE, a perseguição, a censura, não vivi, mas vivo ainda as consequências de um país atrasado e ignorante.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A decadência dos que ficam

É bem evidente que a empresa deste nosso primeiro-ministro na direcção dos destinos do país é, por estes dias, uma bafienta sombra do que foi. A política faz-se hoje, do lado dos que (ainda) defendem Sócrates como puro exercício de saudade. Os jugulares abandonaram o osso, o Carlos Santos exilou-se em penitência, os corporativos resignaram-se ao esquecimento, faz prova as caixas de comentário vazias...  Ficam apenas personagens tontas e vazias que tendo criado um alter-ego maior que a função, justificam o prolongamento. Ficam para apagar a luz e bater a porta. Triste destino os guarda.
Falam em impotência endémica e deserto cultural, sem que releve dos seus toscos jargões qualquer elevação intelectual. Tamanha soberba não se alimentará dos restos que sobrarão comer!
Estas personagens já nem aspiram a combater moínhos de vento, porque já os tomam por garantidos. Enquanto se preparou a alternativa, cuidaram de defender manchetes. Agora, resta ladrar a quem passa. Por entre meia dúzia de toscas grosserias acusam-nos de palestrar para borregos. Triste sina daquele que vê nos outros os defeitos de sua carne. Se fosse a ti, Valupi, fazia como os restantes borregos do teu rebanho, passava-me ao fresco! E tu Vital, volta que para isto mais valia não teres ido!

Portugal sofre de ciganofobia

De acordo com o antropólogo José Pereira Bastos Portugal atinge níveis de racismo relativamente aos ciganos de cerca de 80%.

Este valor é indicativo do sentimento de segregação que leva a fenómenos de exclusão evidentes. Há um sentimento racista em relação a esta etnia e a culpa não pode ser votada em função de sentimentos pessoais ou de responsabilização da minoria.

É extremamente relevante que 20% dos inquiridos num inquérito feito a munícipes de Sintra tivessem respondido "que os conheciam, que eram óptimas pessoas, não faziam mal a ninguém. Eram inteligentes e só precisavam ser ajudados, mas estavam a sofrer um processo de perseguição e tudo o que de maligno lhes atribuímos é uma forma de se defenderem contra a perseguição que sofriam."

É claro que não defendo branqueamentos de muitos crimes e delitos delinquentes causados por muitos ciganos. Haverá ciganos maus certamente, mas não admito, numa sociedade humanista e pluralista, a construção do preconceito em torno da etnia.

The Walkmen apresentam Lisbon! 14 Novembro, no Coliseu dos Recreios!!!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O ido Portugal dos brandos costumes...

Hoje existem muitos fundamentalismos. Basta passear os olhos pela blogosfera... É a confirmação de que Portugal nunca foi isso de um país de brandos costumes! Isso é treta salazarenta de um país amordaçado e castrado na sua liberdade de expressão. Ah... Abençoada internet que nos deu finalmente a liberdade de nos conhecermos uns aos outros... 
Esta nova aprendizagem tem custos. 
No meio de tudo isto criou-se uma massa cinzenta, densa e populosa que se define centrão, que se mantém confortavelmente sob a manta de uma pretensa identidade moral e ética que definiria em tempos a portugalidade... No fundo, e descoberta a manta, trata-se de uma maioria silenciosa que não tem opinião definida em relação a muita coisa: às liberdades individuais, às políticas do ambiente, aos conflitos no mundo, etc. Este magote de gente balança ao favor do vento e da opinião de circunstância, mas não define argumento, porque no fundo desconhece a realidade do que discute... Ora, vai lá um país que só há vinte anos conhece a Levis e a Chiclet, argumentar sobre o conflito Israelo-Árabe ou os massacres do Darfur? Vai um país onde engravidar é ora acto de culpa, ora descuido, permitir que se aborte legalmente? Ui, e vá lá deixar que os gays se casem, esses tipos edonistas e estéreis que ameaçam a sobrevivência da espécie.
Eu até reconheço alguma razão àqueles que defendem que não se deve legislar em matéria social sem que haja um movimento paralelo de mudança na sociedade... Consigo ter para com essa ideia alguma benevolência... Mas por outro lado, não admito esperar eternamente pelo definir dessa densa e lenta massa, que nos arrasta neste impasse de esperar para ver, para que se admitam aos cidadãos os seus direitos que, há não sei quantos anos, lhe são prometidos pela Constituição da República. 
É por tudo isto e mais alguma coisa que têm de se extremar os antípodas da discussão em torno destes temas... Porque é no confronto que se encontram as soluções!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Caminhando alegremente para o descalabro...

Todos os dias os seguros exigidos à compra de divida portuguesa atingem novos records... Aparentemente hoje ultrapassa os 200 pontos, significando que quem quiser comprar 1 milhão de dívida portuguesa tem de segurar 200.000 euros... Não surpreende portanto que numa tentativa de leilão de 500 milhões se tenham apenas vendido 300... Ora, perante isto, qual o caminho? O governo pretende endividar-se mais... Com certeza! Quem vai emprestar? Certamente haverá por aí uns tipos incautos que não ligam a esses canalhas das agências de rating, nem a estas campanhas negras lançadas contra governos responsáveis e competentes nos jornais da alta finança... Ou então, certamente haverá por aí umas empresas de crédito, tipo Cofidis, que emprestam uns milhares de milhões sem perguntas...

É para mim evidente, pelas noticias que leio há dois dias a esta parte, que chegámos a um ponto sem retorno. Os mercados são como um grupo de adolescentes histéricos: quando um grita, os outros gritam ainda mais, não pelo que motivou o grito ao primeiro, mas acima de tudo por o primeiro ter gritado... A dada altura é uma gritaria descompensada e, bom, já transmiti a ideia...

O governo teve um momento para estabilizar os mercados e adiar a coisa por uns meses: o dia em que apresentou o Orçamento de Estado. Esse era o momento. Desbaratou-se a coisa, perdeu-se o momento! Agora, o ministro até pode fazer o pino, que já não vai transmitir confiança a ninguém! E este facto mostra um amadorismo sofrível, por parte de quem nos governa. Custa a acreditar. Eu não acredito ainda! Ou acredito? Será possível acreditar que um Ministério com centenas de trabalhadores, acessorado por outras centenas de consultores, amigos, conhecidos e especuladores podem ser tão gritantemente amadores? Será possível que estejamos entregues a gente tão indigna do acto de governação? Uma gente, que para lá de indigna de ocupar um cargo de decisão, é de uma traça asinina da mais pura que o país tem?

No meio disto tudo, o que se anda a discutir? A Lei das Finanças Regionais... Mais uns milhões para o Alberto João... Enquanto os especuladores e investidores limpam o rabo a obrigações da dívida portuguesa e a bolsa portuguesa afunda com os maiores bancos nacionais, o governo manda uma mensagem ao Parlamento por Jorge Lacão: que se o Parlamento fizer o jeito ao Alberto João, batem com a porta...

Ora aí está a solução... Invocar o pântano! Onde é que eu já vi isto?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Crespo e a consciência colectiva

Não sei que me espante mais,: se o Crespo, se José Leite Pereira, se Pedro da Silva Pereira, se alguma esquerda que considero, se a nossa consciência colectiva e a nossa "experiência" de liberdade.

Mário Crespo, ou chamem-lhe o Gato das Botas, denuncia uma situação que lhe foi reportada por terceiros. Fá-lo, ou tenta fazê-lo, assumindo livremente as responsabilidades de quem denúncia sem prova. Um jornal, recusa publicar o artigo de opinião, alegando carecer de confirmação de factos. As confirmações chegam hoje, assim como a notícia de que afinal já haviam sido confirmadas.

Em que ficamos? Numa falta de liberdade total, a todos os níveis! Somos uma sociedade mesquinha, pequena, subserviente, profundamente carente de espinha dorsal.

1º Mário Crespo, tem o direito a denúnciar o que entender, alta voz, quem entender, como entender. Se fizer uso excessivo das suas liberdades ou violar a dos outros, existem meios e instituições para arbitrá-lo.

2º O Jornal de Notícias tem pleno direito de não publicar um artigo de opinião.

3º Sócrates, Silva Pereira, Lacão, o Gato das Botas, o Capuchinho Vermelho, têm todo o direito a emitir opinião sobre o que bem entenderem, assumindo por ela a responsabilidade que se exige a qualquer cidadão.

4º O Jornal de Notícias prestou-se a um perfeito ridículo ao orquestrar motivações patéticas para a rejeição do artigo. Porquê? Porque é miserável. Ou porque não tem coragem para assumir livremente que não publicou um artigo de que não queria ser mensageiro. Ou porque não tem a liberdade de assumir a sua posição pró-governo. Ou por cobardia. Ou por medo.

Silva Pereira, Lacão, e Santos Silva perderam uma boa oportunidade para estarem calados. Se perante a denúncia de Mário Crespo, se prontificaram a proferir palavras como calhandrice ou mexericos, agora, depois de Nuno Santos confirmar têm de explicar melhor...

6º Sócrates critica abertamente os jornalistas e o seu trabalho, tal como fez na entrevista à RTP ou no Congresso de Espinho, a meu ver na sua liberdade; os jornalistas continuam a dizer o que pensam de Sócrates e das suas políticas livremente, a não ser quando esse ser opaco, estanho e silencioso, que é o Director ou o Chefe de Redacção decide demitir, acabar com jornais, recusar publicar artigos de opinião... Perante isto, pergunto, ONDE ESTÁ O VÍCIO?

7º E nós? Uns defendem o Crespo, porque o Primeiro Ministro atentou contra a sua liberdade de expressão (absurdo!), outros atacam Crespo, porque não tem ética e fez mau jornalismo e, de caminho, não pode exercer a sua liberdade de expressão para denunciar a falta de pejo de um primeiro-ministro que, na presença de terceiros e em espaço público, o ataca profissionalmente (ainda mais absurdo!).

A minha conclusão é a de que o problema reside em nós, na nossa falta de valores enquanto sociedade, na falta de apreço que temos pelo espaço publico onde manifestamos a nossa liberdade de opinião e de expressão. Acima de tudo porque a liberdade acaba para todos, independentemente da força que nos governa, seja à esquerda ou à direita, quando nos entricheiramos em facções.

Eu por mim, o que levo desta novela, é que não volto a comprar o Jornal de Notícias.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ai Europa...

Muito tem sido dito, nos últimos dias, acerca da recandidatura de Durão Barroso à Comissão Europeia. Finalmente, meia dúzia de dirigentes socialistas, a quem reconheço ainda uma réstia de vitalidade tiveram coragem de dizer o óbvio!

Não reconhecer que Durão Barroso é uma figura do passado, de ligação a Bush, Aznar e Blair é pura cegueira provinciana de quem tem na ocupação de um cargo político um orgulho tonto. Durão Barroso pertence ao passado, e lá deve permanecer. Pretender a recondução é, em si, uma tentativa de renascer politicamente, mas sem nada de novo para oferecer...

Pois bem, há um nome por demais evidente de entre os socialistas: Jose Rodriguez Zapatero!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Quando o ridículo se torna doloroso...

A Antena 1 está aparentemente apostada em medir o pulso aos portugueses, e por isto, resolveu tomar opções arriscadas... Saiu da zona de conforto daquela que é a estratégia de comunicação de uma difusora pública de rádio...

O seu segundo de uma série de spots de promoção da emissora está na boca do mundo... No spot pode ouvir-se uma conversa contornada de frustração entre o ouvinte tenso e stressado retido no trânsito e a locutora de rádio que o informa de uma pequena campanha negra levada a cabo por demoníacos e sádicos manifestantes que têm o zelo do ouvinte como alvo... É claro que a Antena 1, em pré-pré-campanha eleitoral, arriscou mais do que devia e mandou-se directamente, e de cabeça, para um poço relativamente fundo... Não obstante a interpretação política de quem a queira fazer, o spot, além de terrívelmente deprimente no que toca à qualidade, é ridículo na trama levando qualquer espírito (por pouco politizado que seja) a sentir que se trata de uma pobre encenação cujo objectivo é transmitir um preconceito em relação ao "manifestante". Senão vejamos:



"Daqui a pouco vamos em directo para o Parlamento. Vamos acompanhar o debate desta tarde na Assembléia da República. São agora 11h23. Uma informação de trânsito: oh Rui, não vale a pena ir por aí! Está cortada, a rua..."

"Ahhh... Não acredito! Outro acidente, Eduarda?"

"Não, é uma manifestação..."

"E desta vez é contra quê?"

"Bom, pelos vistos é contra si!"

"Sim, sim... Contra mim..."

"Pois, contra quem quer chegar a horas!"

"Quem nos diz tudo sobre a actualidade, diz-nos muito! Antena 1, liga Portugal."


A trama é impiedosamente má! Não sei quem escreveu, não sei quem aprovou, não sei quem realizou... É má! Em termos de qualidade, não há pior, para lá dos anúncios aos detergentes da louça que estão numa categoria de mau já inacessível!

À parte a qualidade, o texto remete-nos para uma opinião claramente figurada na condescendência da última fala "pois, contra quem quer chegar a horas!". Quanto a isto, nada a dizer, opinião é opinião, todos têm direito a uma. No entanto, o slogan final coloca-me em perspectiva e acidifica-me o discernimento... "Quem nos diz tudo sobre a actualidade, diz-nos muito!". Ora aqui, a meu ver, é que a porca torce o rabo. A Antena 1 assume o medíocre diálogo anterior como uma posição sua em relação à actualidade que vivemos? É este o olhar critico que a Antena 1 faz sobre a actualidade? De crítica em relação a movimentos que se manifestam contra tudo e nada? Bom... Delicado! Muito delicado! Se a Antena 1, difusora pública, assume tão publicamente uma visão crítica da actualidade social do país, ora então alguém da direcção deve assumir essa opinião como sua e ser convidado a sair!

Só por amadorismo é que a Direcção de uma rádio pública se suícida tão clamorosamente e de forma tão solenemente tonta! Chega a ser encabulante assistir... Fiquemos atentos aos nomes da Direcção, para que de futuro se averigue se vão parar a algum Gabinete ministerial...

Can't we do better?

É oficial a recandidatura de Durão Barroso na Comissão Europeia, pelo PPE. Esta nomeação constitui prova da inutilidade do cargo. O cargo de presidente da Comissão faz lembrar o de uma governanta. Vai mantendo a casa asseada e gerindo a vontade de 27 patrões caprichosos. O cargo não é fácil certamente, mas para quem assistiu ao primeiro mandato de Barroso, percebe-se que a recandidatura acontece pela pura falta de personalidade e iniciativa, que lhe permite passar medianamente despercebido e incólume a escândalos.

Esta é a Europa que temos... Ninguém está disposto a grandes mudanças, muito menos a um Presidente da Comissão com o menor peso político. É esta a atitude europeia no momento em que os Estados Unidos dão prova de vitalidade social e democrática. Não há Instituição que sobreviva em democracia ao distanciamento do eleitor.

Veremos a percentagem de abstenção às eleições europeias, não só por cá...

Se os nossos representantes institucionais não fizerem bem a leitura desses números, não vão nunca perceber ou contrariar os sucessivos resultados negativos, sempre que o projecto europeu é referendado. Seja qual for a proposta! Os europeus são governados por uma geração política absurdamente incompetente, sem qualquer paralelo! Gente totalmente incapaz de traçar um futuro para a Europa, ou dar continuidade a uma dinâmica de crescimento institucional.

Por cá, as figuras de referência na vida política perpetuam o apoio envergonhado ao candidato, muitos deles pelo simples e tonto motivo de se tratar de um concidadão. Que lodaçal! Que pântano de mediocridade política! No meio de tudo isto, aparece apenas o Mário Soares, que apesar do balbuciar pesado da idade, admite que se o Durão Barroso é o que a Europa tem de expoente,não vai a lado nenhum!

Poderá alguém discordar?

Em contraponto ao slogan de Barack Obama mais repetido na campanha norte-americana, poderiamos contrapor um expressivo "Can't we do better?"

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Só por brincadeira

Só por brincadeira a Conferência Episcopal Portuguesa pode, numa altura em que a tendência de voto cresce à esquerda do PS, vir chantagear com o voto de protesto uma medida que reune consenso à esquerda (salvo algum conservadorismo do PCP).

Chega a ser angustiante a tentativa de marcar a agenda política por um conjunto de individuos que representam hoje as ruínas de uma instituição desacreditada e desmoralizada, com igrejas cada vez mais vazias e retóricas cada vez mais minoritárias e limitadas.

A forma como o faz não deve ser ignorada! Uma Instituição que se serve do alarmismo social e da ameaça não tem lugar na Europa do Século XXI. Estes são comportamentos que não podem deixar de ser comparados à habitual retórica dos estremistas do Médio Oriente.

Da Igreja espera-se responsabilidade e doutrina, mas não pode admitir-se política e ameaça. Vivemos num Estado de Direito laico, onde a política cabe aos políticos e onde a religião é plural e a quem não cabe moralizar, aqueles a quem por doutrina já exclui. Não é admissivel que depois de excluir homossexuais a Igreja pretenda limitar-lhes direitos civis, sob pena de ver, no futuro discutida a sua própria doutrina por leis civis. Refiro-me, logicamente, à discriminação das mulheres ao direito de exercer o sacerdócio, por exemplo, que começa a ganhar adeptos sobretudo nos Estados Unidos de uma lei civil que force a Igreja a abulir aquilo que é considerada uma discrimanação dos direitos da mulher.

Na minha perspectiva, à Igreja a doutrina, ao Estado a lei. Reconheço à Igreja a legitimidade de excluir quem entender de acordo com a doutrina que minisra. E reconheço unicamente ao Estado a legislação sobre os direitos civis. Qualquer intrumissão de uma esfera na outra, terá certamente consequências. Olhando para a vitalidade e legitimidade de ambos os sujeitos, julgo que a Igreja já perdeu esta guerra.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

60 anos de utopia

Celebraram-se ontem os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O tema teve cobertura mediática e dominou os discursos e comentários por todo o globo. Parecem emergir dois sentimentos generalizados: a desilusão dos que se conformam com a impossibilidade de uma aplicação global dos trinta direitos e a euforia dos que alimentam fé na sua consagração.
Li a Declaração e não senti mais que desilusão. Como tantas outras utopias, esta Declaração tende a transformar-se numa obsessão geracional: qualquer jovem de 20 ou 30 anos lerá naqueles trinta artigos um modelo social ultrapassado, onde o direito é vivido na moral, no seio da família e limitado às fronteiras de um estado e suas respectivas leis.
Desejaria, por isto, que se celebrasse a data com a sua reforma, sob pena de se transformar numa resolução antiquada, defendida por facção ou saudosismo.
A reflexão é sem dúvida necessária. Sessenta anos depois temos Guantanamo e os sinistros voos que lhe alimentam as celas, temos o Congo, Zimbabué, Somália, Sudão e o Gana, temos o terrorismo, o tráfego de órgãos e escravos, temos os crimes ambientais nos rios Chineses, na Amazónia, nas praias tailandesas ou na Sibéria.
Celebre-se a Declaração, na luta de ideais de liberdade, igualdade e democracia. Lute-se pela Educação, Saúde e Justiça gratuitos, sem as quais não poderá existir verdadeira liberdade. Lute-se por água, electricidade e saneamento gratuitos como necessidades básicas à dignidade humana. Lute-se por um modelo tripartido de Economia, Cultura e Conhecimento equitativo como garante de desenvolvimento social. Defenda-se inequivocamente o direito à liberdade individual, como garante de liberdade às expressões sociais minoritárias. Consagre-se o direito aos recursos naturais e à preservação do planeta e por último, consagre-se definitivamente o direito à vida com a abolição da pena de morte.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Change, we can!

O mundo encheu-se de esperança.
Chega ao fim uma década negra na história dos Estados Unidos da América culminando num rude golpe ao seu domínio financeiro e económico a nível mundial. No entanto, perante um mundo estagnado, mudo, inerte e passivo, os Estados Unidos reinventam-se na pele negra de Barack Obama. É aqui que reside o domínio dos Estados Unidos da América perante o mundo: o dinamismo da sociedade, a vitalidade da democracia, o domínio claro das ideias, a constante proposta de mudança, de alternativas. Num ano apenas um país de enormes assimetrias, de gigantesca diversidade, foi capaz de discutir o mundo, de se escrutinar, de se avaliar, de propor soluções aos problemas que criou. O mundo volta a virar-se para Washington.
É caso para perguntar onde está a Europa, neste novo mundo Ocidental fragmentado por duas guerras falhadas.
Qual é o papel da Europa num mundo onde o poder económico se distribui pelo Médio Oriente, China, Rússia e Índia?
Qual é o papel da Europa no esgotar da especulação e dos abusos do capitalismo desregulado?
Qual é o papel da Europa na nova medida de forças entre Washington e Moscovo?
Qual é o papel da Europa perante os desafios ambientais?
Nenhum.
Todos esperamos as decisões de Barack Obama, todos aguardamos a resposta do outro lado do Atlântico. A Europa mostra-se, ainda, incapaz de marcar a agenda mundial e responder aos desafios globais. Porque não fala a uma só voz, porque não tem liderança política, porque não tem qualidade democrática, porque não é representativa, porque não é coesa, porque não existe enquanto visão estratégica, porque não se posiciona como bloco de união além dos interesses dos seus estados membros, porque a ideia que representa se vem diluindo na institucionalização burocrática de uma Comissão e um Parlamento sem representatividade.
Este deveria ter sido o tempo da Europa, não o de Obama!
No entanto, enquanto os Estados membros desta Europa a 27 se preparam para discretamente, e sem escrutínio, reconduzir no cargo de Presidente da Comissão Europeia o único dos chefes de Estado que sobreviveu à fatídica e ridícula Cimeira das Lajes, por forma a prosseguir sem ruptura uma agenda invisível de uma Comissão que se quer fraca e sem dimensão política, os americanos renovam-se, reinventam-se, transformam-se numa nova esperança e apostam forte na mudança. Teremos mais oito anos de domínio norte americano no mundo, quem sabe o reforçar desse mesmo domínio, enquanto esperamos pelos Irlandeses e Polacos, na esperança idílica de vermos eleito um Presidente (ainda que de segunda) e um Ministro dos Assuntos Externos que nos represente e nos dê voz, que coloque os nossos ideais e a nossa visão do mundo em cima da mesa. Que imponha a nossa agenda política aos restantes blocos económicos: que nos proteja das alterações climáticas forçando de uma vez por todas os Estados Unidos a ratificar os protocolos internacionais; que defenda a democracia como arma de defesa da paz; que defenda os direitos humanos; que defenda a lei internacional; que dignifique as Nações Unidas e equilibre os poderes no seio da NATO; que imponha o diálogo no Médio Oriente; que proponha a reforma do FMI; que imponha restrições ao comércio de armas entre o governo chinês e as ditaduras em África; que contraponha ao modelo social americano um modelo social europeu forte e reformado; que imponha a diplomacia política à diplomacia económica; que reafirme a ideia de democracia e liberdade no mundo: a liberdade da sociedade como contraponto à liberdade individual norte americana.
Este devia ser o momento da Europa! Será o momento de Obama!